Família pobre, dignidade tem de sobra
Apesar de analfabetos, esse assunto não os incomoda
A mãe cuida da casa, se empenha o mais que pode
Só problema, dificuldade e a cabeça quase explode
E assim sobrevive como manda o figurino
Sem imaginar qual sua sina, enfim, o seu destino
Quem ganha pouco faz milagre, só se fode
Enquanto o pai trabalha, o irmão mais velho deita e dá um bode
Ele não herdou o velho em matéria de trabalho
Se viciou em cocaína, conheceu uma mina
Com quem teve um pivete
Para a alegria do pai, pois sempre quis ter um moleque
O menor da casa se liga em televisão
E te diz de trás pra frente os horários diários da programação
Seis horas da tarde, a mãe escuta um barulho, então
Pressentindo algo, ela escuta abrir o portão
Dois homens mal encarados, calibres pesados, dispostos a tudo
E o resultado?
A mãe ferida não entendia nada
Enquanto os dois elementos fugiam em disparada
O seu filho tinha entrado numa treta errada
Conheceu pessoas más
Que conquistavam o seu espaço à bala
E começou a perceber o esquema da vila
Malandro que é malandro, na área não vacila
Aqui, meu irmão, é cada um por si
Mesmo se sei, não sei
Se sei, digo: Não vi
Aqui, meu irmão, é cada um por si
Mesmo se sei, não sei
Se sei, digo: Não vi
Dessa vez o mano escapou por pouco
Foram 15 tiros de PT, destino, meio do coco
A mãe não entendia o porquê da situação
Meu filho não, então o tiro, a conclusão
Os fatos foram dados como esquecidos
Fodidos estavam, estavam, estavam fodidos
A coleta do dinheiro se tornou uma penitência
Cada vez exigem mais e haja paciência
Os móveis, então, começaram a ser vendidos
E o filho cada vez mais acuado em todos os sentidos
Surgiu então um problema: os móveis tavam acabando
O que fazer? Estava armado o esquema
Se sentindo ameaçado, ele chegou a uma conclusão
A parada é comigo, não é, não?
Minha família não tem nada a ver com isso
Segurando um terço, no olhar a lágrima e o olhar fixo
Filho, não vá, não quero perder você
Se você for, eles irão te matar
Ele diz: Ah, mãe, se tem que ser agora, agora será
Abre a porta desarmado, sem saber o que esperar
Atravessa a 12 no cruzamento perto da favela
Ninguém entende nada, essa é a lei
Ninguém pretende ser o próximo, falei
Mataram aquele mano bem na frente da sua mãe
No matagal, coisa e tal, o corpo se decompõe
Pergunto: Pra quê rezar, se lamentar?
Talvez seja o motivo, sabe o cara
Hey, hey, pra sobreviver
Aqui, meu irmão, é cada um por si
Mesmo se sei, não sei
Se sei, digo: Não vi
Aqui, meu irmão, é cada um por si
Mesmo se sei, não sei
Se sei, digo: Não vi
Quem era o cara responsável pela morte ocorrida?
Descarregou sua PT na tora, jogou em cima
O cara nem teve o tempo de pensar
Segundo uma testemunha que não quis se identificar
Caiu já morto para o desespero da sua mãe
Que não quer vingança, mas no braço o filho expõe
A coisa mais importante da sua vida
Entrou no caminho errado, não teve alternativa
Pisou na bola, bum, morre, esta é a lei
Quem será o próximo? Eu? Você? Não sei
♪
Aqui, meu irmão, é cada um por si
Mesmo se sei, não sei
Se sei, digo: Não vi
Aqui, meu irmão, é cada um por si
Mesmo se sei, não sei
Se sei, digo: Não vi
Aqui, meu irmão, é cada um por si
Mesmo se sei, não sei
Se sei, digo: Não vi
Aqui, meu irmão, é cada um por si
Mesmo se sei, não sei
Se sei, digo: Não vi
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