Vida do crime, vida sem volta
Muitos já morreram, o inferno não tem portas
Meu mano foi, eu sei, eu vou também
Mas antes disso, vingança, bandeira branca, aném
Na mente vem lembranças de tudo que passamos juntos
Primeiro ferro, primeiro assalto
Tudo deu certo, confesso
Até me deu um gelo, um frio na barriga
Sei lá, sensação esquisita
Queria voltar mas algo me empurrava
A minha mão gelada suava
Foi tudo muito rápido
Quando eu vi já era
Joga a carteira e os doca fora
A grana a gente racha
Rapidinho dá o tempo
Vamos na boca buscar um preto
Passar na feira, comprar uma peita
Tomar um caldo e aquela breja
Mais tarde o fervo é certo lá no meu barraco
Avisa os cara e as dona pra quem não sabe
É lá na Cinco, duas casas depois da esquina
É lá pertin da vila, de frente pro mato
Rap no volume máximo
A vizinhança estranha
O cheiro é forte e vai longe
Quem mistura não segura a onda
Cerveja, maconha muita lombra
Tem cara que se acha o Super-Homem
Tem dona fazendo até strip-tease e é sempre assim
Sempre tem uma querendo aparecer, morro de rir
Dizem que não existe mulher feia, você que bebeu pouco
Depois das duas está tudo mundo muito louco
Quem compra e quem passa, quem rouba e quem mata
O sequestrador e o refém
Eu não sou mais eu, ninguém não é mais ninguém
Cada um encorpora um personagem
É por isso que as drogas é uma viagem, viagem
Nós dois temos os mesmos defeitos
Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos
Nós dois temos os mesmos defeitos
Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos
Eu só queria um traçado presidente com cortezano
Engraçado todo dia a mesma coisa, a cena se repete
Aí zé, tira esse som e põe um rap
Fim de tarde tanto faz
Segunda, terça, quarta
Os moleque lá na quadra batendo bola
Os moleque vindo da escola
Calça jeans, camisa cinza, caderno na mão
Não, nem rola
Prefiro uma quadrada, um boné a aba reta, uma pulseira de prata
Os homem implica que te peba
Os mano defende, favela
Foda-se, é o meu estilo
A viatura passa, fica, quase quebra o pescoço
Dou uma olhada, viro o rosto, finjo que não é comigo
Bope, os cara bate forte
Atirador de elite cheira a morte, o que é barra pesada
Notícias da madrugada
Assaltaram o mercado, a padaria, a farmácia, a lojinha ao lado
Mortes de adolescentes, briga entre gangues, acerto de conta
O resultado, o cage tá lotado, o cemitério tá lotado
Neguin não vem aqui em cima e eu não vou lá em baixo
Mas o futuro a Deus pertence
Nordestino às vezes apronta
E um dia a gente se tromba
Filho de nordestino
Não deixa passar batido
Estilo cangaceiro em pleno centro-oeste
Se vai na testa, pá, a morte é certa
Se vai na espinha, cadeira de rodas pra toda vida
Mas tem os manos que fogem disso
Se entrega a Jesus Cristo
Não bebe, não fuma
Passa a noite na igreja
Nas minhas palavras tenho dom de mágoa, inveja
Não sei se é coisa do diabo ou se é saudade da liberdade
Nós dois temos os mesmos defeitos
Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos
Nós dois temos os mesmos defeitos
Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos
O que é fato é certo, o que é certo eu não nego
Quando a fita é contigo, quando quem morre é seu amigo
Não importa se é herói ou bandido
Aí eu quero ver sangue de barata ferver
Revolta, medo, coragem
Uma mistura de sentimento
Pronto, bebi o veneno
Corrente que nunca quebra, a maldição da favela
Noite de lua, mês de julho, venta, faz frio
A natureza percebe a tristeza
Capela fazia, parede sem tinta, banco de madeira
De longe escuto a choradeira
Aqui fora meia duzia de pessoas
Lá dentro só sua irmã e sua mãe
Olho sua fisionomia, parece estar com raiva
Trairagem é foda, atiraram pelas costas
Ousadia, vieram aqui em cima
Mais pode ter certeza
Que quem fez isto vai pagar caro, muito caro
Mataram meu outro lado, o irmão que eu não tive
Mas faço uma promessa, você sempre vai estar comigo
Até o fim da minha vida
Dou valor na nossa parceria
Um cai pra dentro, outro vigia
A noite é lua, o sol é dia
Cara e coroa, uma moeda
Eu ajoelho e você reza
O santo é cosmo e Damião
A palavra união
Quem deve paga, qual é o preço?
Você esta morto e eu estou preso
Nós dois temos os mesmos defeitos
Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos
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