Já que nenhuma autoridade no Brasil Se dispôs a ajudar na integração Dos negros libertos pela abolição O país tinha nas mãos um problema. Dois problemas, na verdade. Problema número 1: Quem iria fazer o trabalho Que antes era feito pelos escravizados? Problema número 2: O que fazer com as centenas de milhares de negros Agora livres? E para estes dois problemas, uma só solução: Imigrantes. Mas não qualquer imigrante. Imigrantes brancos. Europeus, de preferência. A abolição pode ter acabado com a escravatura Mas nem sequer arranhou o racismo. E a maior prova disso é a lógica por trás deste plano: "Se não há mais escravidão, para que negros?" "Não precisamos mais de negros" Era o que as autoridades pareciam dizer. Mas então como exterminar De uma forma moralmente aceitável A enorme população negra do país? Ora, se os negros chegaram aqui trazidos de navio Vamos agora trazer brancos nos navios. Muitos brancos. E assim com o tempo a pele da população vai ser branqueada E para mais, estes imigrantes brancos Ainda ocupam os postos de trabalho precário que ficaram vagos. Mas atenção! Que estes novos trabalhadores jamais aceitariam vir acorrentados Como os africanos Por isso, aos imigrantes brancos que chegavam E que eram alemães, polacos, ucranianos Italianos, espanhóis, e até japoneses As viagens foram oferecidas pelo estado brasileiro Em navios fretados. Ao chegarem, foi-lhes oferecido crédito a longo prazo Para comprarem terras do estado Vendidas com desconto especial. E para completar, o estado ainda pagava prémios aos latifundiários que Coitadinhos! Agora desprovidos da mão de obra escrava Abrissem as portas aos tais imigrantes brancos. Não que a vida deles tenha sido fácil ao chegar. Muito pelo contrário. Mas é preciso dizer que, apenas por serem brancos A eles foi oferecido absolutamente tudo O que foi negado aos 700 mil negros Que já lá estavam, em desamparo.