Parece que contar estas histórias é falar do passado. Não é. A escravatura só existiu Porque houve um discurso racista que a sustentava E este discurso ainda existe. Não só ainda existe Como ainda sustenta a violência do presente. A violência da desigualdade social A violência da intolerância religiosa A violência da falta de representatividade. A violência da gentrificação das cidades Como forma de higiene social A violência das prisões, agressões E assassinatos diários Dos descendentes dos escravizados. Mas se o racismo ainda está vivo, o samba também está. E as histórias que o samba conta Abrem frestas no pensamento. Abrem fendas nos muros. Abrem clareiras Rodas por onde ainda circulam os saberes Daqueles que sobreviveram à mais terrível das travessias E que tanto têm a nos ensinar. Talvez, ocupando estas pequenas frestas abertas E fazendo delas uma trincheira Seja possível transformar a guerra em guerrilha Lutar ponto a ponto Lance a lance Até virar o jogo.