Canto de flecos e esporas,
Se perdem pelo galpão,
E o amargo do chimarrão,
Tem gosto doce, de aurora,
E pelo potreiro à fora,
O mensual "recolhedor",
Como se fosse um clamor,
Vem levantando a tropilha,
E apaga uma estrela que brilha,
No estalo do arreiador...
Aromas da madrugada,
Cheiro de pêlos e arreios...
Trinam barbelas de freios,
Cimbram cordas sovadas...
Um tirão na carne assada,
Pra garantir o compasso
Porque o tempo fica escasso
E o grito que estende a forma
É o que dá sentido as normas
Junto à presilha do laço...
Assim a estância desperta,
Revelando a sua magia,
Se moldando a luz do dia,
Que num upa, a cincha aperta,
Um quero-quero de alerta,
No "acouo" da cahorrada,
Que festejando a peonada,
Saem junto no entreveiro,
Qual escolta do campeiro,
Rumo a um fundo de invernada,
É sempre o mesmo balanço,
Rodeios, rebanhos, tropilhas,
Obrigação de quem encilha,
Do caborteiro ao mais manso,
Conheço as cordas que tranço,
Porque aqui, sabemos bem,
Nunca falta ou sobra alguém,
Quando um mandamento atrai,
" Aqui, quem tem poncho vai,
E quem não tem, vai também!..."
Seja de campo ou mangueira,
Tanto a cavalo ou de a pé,
A lida sabe quem é,
Os que se fazem tronqueiras,
Homens curtidos da poeira,
Têmperas que a geada molda,
Aço que o tempo solda,
E a terra sustenta o viço,
Quando a rudes do serviço,
De fundamentos se tolda,
Ser peão de campo é assim,
Cada um tem seu costado,
Coxilha, várzea ou banhado,
Largas distancias, sem fim,
Por onde ecoa o clarim,
De um grito que se levanta,
Sonoridade que encanta,
Repontando o bicharedo,
E libertando os segredos,
Que o mensual traz na garganta.
A estância se manifesta,
Pelo manejo conjunto,
Acolherando os assuntos,
Entre o que falta e o que resta,
Onde quem se justa, empresta,
Sua vasta sabedoria,
Se empenhando dia a dia,
Sol a sol, ou tempo feio,
Pois o homem dos arreios,
Aqui tem grande valia.
É o vai e vem da função,
Da cozinheira ao domeiro,
Do alambrador ao caseiro,
Do capataz ao peão,
Entropilhados na união,
Que dá requinte a importância,
Dos que embusalam esta ânsia
Junto ao clamor do ritual,
Que orgulha o peão mensual
Ter em si, alma de estância.
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