Quando atiro as potreadoras Nas patas de uma milonga, Sinto a pampa que ressonga "En las riendas domadoras". Minha alma campeadora Rebenta sogas e amarras Pra gavionar nas guitarras Entre primas e bordões. Saudando rancho e galpões, Solando o choro das garras. Vibram cordas e gargantas "Al compás de la vigüela". Ruflam "flecos y espuelas" Porque o campo se agranda. Há uma raça que levanta Um brado em contrapunto. Três pátrias gorgeiam junto Tramadas em dois idiomas Nos pedestais das pajonas Templando os mesmos assuntos. Milonga, oração platina Das Reduções Jezuítas, Ponteada em cordas de tripa Entre rabecas de crina Nos puebleros da Argentina. No Rio Grande ancestral, "En la vieja Banda Oriental". Da Colônia do Sacramento, Dos fogões de acampamento Sobre o poncho do chircal. Milonga, sereno acalanto Das violas e das almas. É rio que singra na calma Nas veias deste meu canto. Canção que espanta o pranto E aguça a fúria do instinto. É toda a força que sinto Pois vem do ventre da terra, Rebrotando em primaveras Com o sangue de Trinta e Cinco. Cantilena dos sinuelos Que alargaram as distâncias. É a lida das estâncias Cantada em voz de cincerro. "Es pontezuela y pañuelo" Talareando com o pala... E jamais se embuçala Esta cantiga machaça Porque o pampa perde a graça Se uma milonga se cala.