Aqui no povo, faz anos, Na beira do rancherio, Sobre um potreiro vazio Se armou um toldo de ciganos. Eu, rapazote aragano, Sem plata e sem bendição, Estendi a minha mão Pra sorte me fazer planos. Depois me fui pra campanha, Onde meu pai era peão E estendi a mesma mão Pro arreio que me acompanha. Queimei o couro da palma A pealos sem tirador. Engrossei a pele d'alma Nos cabos de arreador. Perdi o desenho de volta Nas voltas do maneador E o "M" da mão canhota Tironeando sentador. Curei das mãos as feridas Nos barros de corredor. Borrei a linha da vida Com tinta de sangrador. Tirei moirão pra alambrado, Ferrei roda de carreta, Senti o coice do arado E o coice de algum sotreta. Diz que a vida na campanha Parece cruzar mais lenta, Mas até moirão de angico Um dia o tempo arrebenta. Peguei na mão do meu pai, Quando meu velho partiu. Vi um caminho apagando Como secura de rio. A espinho, barro e farpado, Linha da vida sumiu. Como é fácil ler a sorte De um guri do rancherio! Ela pegou minha mão, Disse: Campeiro! ...E sorriu. Cigana pegou as moedas, Disse: Campeiro! ...E sumiu. Depois me fui pra campanha, Onde meu pai era peão E estendi a mesma mão Pro arreio que me acompanha.