No centro da taba' se estende um terreiro
Onde ora e se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis
Em fundos vasos d'alvacenta argila, ferve o cauim
Enchem-se as copas, o prazer começa, reina o festim
O prisioneiro, cuja morte anseiam, sentado está
O prisioneiro que outro sol no ocaso, jamais verá
♪
A dura corda que lhe enlaça o colo, mostra-lhe o fim
Da vida escura que será mais breve do que o festim
Contudo os olhos d'ignóbil e o pranto, secos estão
Mudos os lábios não descerram queixas do coração
♪
Mas um martírio, que encobrir não pode, em rugas faz
A mentirosa placidez do rosto
Na fronte audaz!
Que tens, guerreiro?
Que temor te assalta no passo horrendo?
Honra das tabas' que nascer, te viram
Folga morrendo
♪
Folga morrendo porque além dos Andes revive o forte
Que soube ufano contrastar os medos da fria morte
Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva, lá murcha
♪
Meu canto de morte, guerreiros ouvi
Sou filho das selvas, nas selvas cresci
Guerreiros descendo da tribo tupi
Da tribo pujante que agora anda errante
Por fado inconstante
Guerreiros, nasci
Sou bravo, sou forte
Sou filho do Norte
Meu canto de morte
Guerreiros ouvi
♪
Já vi cruas brigas de tribos inimigas
E as duras fadigas da guerra, provei
Nas ondas mendaces senti pelas faces
Os silvos fugaces dos ventos que amei
Andei longes terras, lidei cruas guerras
Vaguei pelas serras dos vis Aimoréis
Vi lutas de bravos, vi fortes, escravos
De estranhos ignavos, calcados aos pés
E os campos talados e os arcos quebrados
Piagas coitados, já sem maracás
Meigos cantores servindo a senhores
Que vinham traidores com mostras de paz
Aos golpes do imigo, meu último amigo
Sem lar, sem abrigo caiu junto a mim
♪
Com plácido rosto, sereno e composto
O acerbo desgosto, comigo sofri
Não vil, não ignavo, mas forte, mas bravo
Guerreiros, não coro do pranto que choro
Se a vida deploro, também sei morrer
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