Há algo de calmo e de raso nesse leito profundo Tem dias que o sal atravessa as paredes do mundo A água em desnível acentua o relevo das horas E um traço contínuo vai misturando o gosto das auroras Roa e rebento Às vezes a vida é uma estrada sem acostamento Tem dias que o sol estilhaça as vidraças da sala Eu tenho tentado escutar as palavras que você não fala O cabide de roupas do quarto parece um espantalho É só mais um ato falho O demônio lunático pousa sobre a catedral em chamas Aprendi a reconhecer a serpente pelo dourado das escamas Metade das coisas que ele diz não faz o menor sentido E a outra metade, eu preferia mesmo era nem ter ouvido Já era pra ter saído Mas há algo de flor e de asfalto nesses tempos encardidos A peça já está no seu terceiro ato e os atores estão bem perdidos Não sei em que altura da estrada a gente perdeu a poesia Encontrei a metáfora mais clara que hoje me caberia Pra evitar a azia Me vesti com as paredes de casa, enquanto o lobo soprava lá fora Tem dias que o tempo desgarra, e tem tempos que o dia demora Abri a janela sabendo que o vento não me derrubaria Eu tenho tentado fugir das notícias do dia Haja terapia Mas há algo de flor e de asfalto nesses tempos encardidos A peça já está no seu terceiro ato e os atores estão bem perdidos Não sei em que altura da estrada a gente perdeu a poesia Encontrei a metáfora mais clara que hoje me caberia Pra evitar a azia Me vesti com as paredes de casa, enquanto o lobo soprava lá fora Tem dias que o tempo desgarra, e tem tempos que o dia demora Abri a janela sabendo que o vento não me derrubaria Eu tenho tentado fugir das notícias do dia Haja terapia