Nem na faca, nem no grito Nem no tapa, nem na bala Nem na forca, nem na força Nem na dor, que a bomba estala Minha voz não silencia Porque poeta não cala Nem no açoite, nem no tiro Nem na lança, que empala Na angústia, na tortura Nem na morte, que avassala Minha voz não silencia Porque poeta não cala Minha voz vem Do peito e da garganta Que Homero, Que Lorca E Lourival, Bob Dylan Leminsky e João Cabral De Camões, de Cecília Que encanta É a voz que exalta, grita e espanta Amargura, tristeza e a tudo embala É o grito do mundo da senzala De Drummond, Vilanova e Neruda Da beleza e do sonho não desgruda É que a voz de um poeta nunca cala Nem no fogo afogado Nem no óleo que empala Nem no berro, nem no ferro Nem na cela, sem a fala Minha voz não silencia Porque poeta não cala Nem na tranca, nem no tranco Nem no tronco, da senzala Nem na trama Nem no golpe da mentira que entala Minha voz não silencia Porque poeta não cala O racismo, a mentira e a opressão São doenças dos tempos São as carnes Que alimentam terrores e barbáries Abrem portas para a destruição A poesia é uma arnegunição Um antídoto forte, um sentimento Libertai-me liberto como o vento Que na paz se encerra e principia A poesia esconde armamento Contra o ódio que cega e silencia