O imperador Dom Pedro Tem uma filha bastarda A quem quer tanto do bem Que ela ficou malcriada Queriam casar com ela Barões de capa e espada Ela, porém, orgulhosa A todos que recusava Este é menino, esse é velho Aquele lá não tem barba O de cá, não tem bom pulso Pra manejar uma espada Dom Pedro falou-se rindo Ainda serás castigada Não vás tu, de algum vaqueiro Terminar apaixonada E na fazenda de seu pai Já no fim da madrugada Um dia, numa janela A infanta se debruçava Viu passar três moradores Que trabalhavam de enxada O mais garboso dos três Era o que mais trabalhava Tanto plantava algodão Como do gado cuidava Vestia gibão de couro Fortes sapatos calçava Na aba do chapéu de couro Fina prata se estrelava Pois logo, desse vaqueiro A infanta se apaixonava E o vaqueiro só cavando Ele sabe o que cavava A princesa chama a velha Em que mais se confiava Estás vendo aquele vaqueiro Trabalhando, ali, de enxada? Condes, duques, cavaleiros Por nenhum eu o trocava Vai chamá-lo aqui, depressa E ninguém saiba de nada A velha vai ao vaqueiro Que na terra trabalhava Vem comigo, meu vaqueiro Ai, deixe dessa vista baixa Levanta os olhos, que vês A estrela da madrugada Entraram pelo portão Que a porta estava fechada Na camarinha da moça O vaqueiro já chegava Senhora, o que é que me manda? Eu vim por vossa chamada Quero saber se te atreves A queimar minha coivara Atrever, me atrevo a tudo Que um homem não se acovarda Dizei-me, porém, senhora Onde está vossa coivara? É abaixo dos dois montes Na fonte das minhas águas Abaixo do tabuleiro E na furna da pintada Na linha da perseguida No corte da desejada Passam o dia folgando O mais da noite passavam E o vaqueiro só cavando Ah, ele sabe o que cavava À meia-noite, a princesa Pediu tréguas, por cansada Basta, basta, meu vaqueiro Queimaste mesmo a coivara Não sei se por varas morro Ou com ela incendiada E, assim, a filha do rei Do orgulho foi castigada