Meu lunário tem antigas alquimias de almanaque
Já enfrentou intempéries, roubos, incêndios e saques
Dos homens, das traças, das garras, das eras
Carrega segredos, decifra quimeras
Venceu todos os ataques
O meu lunário perpétuo sob o sol é luzidio
Meu lunário foi forjado num fogo de desafio
Que vibra, esquenta, atiça, aperreia, faísca
Enlouquece, que pega na veia
Pelos séculos a fio
♪
O meu lunário perpétuo guarda as vozes seculares
Do profeta de Canudos e do mártir dos Palmares
Sonhando com o reino do espírito santo
Na Terra, no céu e em todo recanto
Nos terreiros e altares
O meu lunário perpétuo é meu livro precioso
Minha cartilha primeira, minha Bíblia de Trancoso
João Grilo, Chicó, Malazartes, Mateus
Os órfãos da terra, os filhos de Deus
Heróis do maravilhoso
♪
Meu lunário é a memória de um país que vai passando
Diante dos nossos olhos, rindo, mexendo, cantando
Mestiço, latino, caboclo, nativo
É velho, é criança, morreu e tá vivo
Presente, mas até quando?
Meu lunário é conselheiro, é meu folheto, é meu missal
Atravessando os milênios, cada ponto cardeal
De norte a sul, de pai para filho, de lá para cá
Meu livrinho andarilho
Fabuloso romançal
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