Ainda bem que eu posso te escrever Sem que tu ache estranho eu passar Horas e horas pensando nos nossos corpos se deteriorando Talvez maços de Bellois Talvez maconha, talvez cachaça, talvez crack Nossos parente bebendo até perder o prumo Todo mundo que a gente perdeu E fingir que não doeu, ou pior, não doer Ainda bem que eu posso te dizer que eu perco o sono Pensando nos efeitos psíquicos da fuga E que meu amigo com nome de anjo berra Feito um porco indo pro abate Num quartinho trancado e é isso ou a mãe dele chamar a polícia Eu nem gosto de colocar em balanças Mas qualquer solidão de condomínio Não tem tamanho pra caber Na dimensão de uma comunidade adoecida É difícil pensar que temos que nos cuidar Por saber que nos matando Nós estamos matando alguém É difícil pensar que temos que nos cuidar porque... Porque já estão nos matando, aliás, como é isso? Solução é uma palavra que a minha cabeça Não consegue dissolver muito bem E ainda bem que eu posso escutar você Ler sua mensagem e lembrar Que essa vontade instintiva de autodestruição É apenas outra forma de sobrevivência Tipo adiar a dor ou morrer sem doer Eu sei porque tu me escreveu Eu posso pensar um pouco menos Baixar os olhos no meu abismo E dizer que vai dá bom Nós vai se curar e vai ser massa lá na minha casa, lá na tua casa Mas o outro nós, o nós maior vai continuar errando Sonhando com merda, cheirando a merda e vivendo na merda Não tem pausa, essa porra não tem pausa