Falta de ar, os gemidos, os ais A febre, seus fantasmas, seus terrores Sem pressa, passo a passo, mais e mais A besta avança pelos corredores O médico caminha com cautela Estuda as artimanhas do inimigo A enfermeira brava vence o medo Pouco lhe importa a extensão do perigo O mundo está zaranga ao Deus dará O povo não se entrega, é cabra cega É lá e cá sem lei, sem mais aviso Só sei que é preciso acreditar ♪ Fazemos todos parte desta história Mesmo que os tontos blefem com a morte Num jogo de verdades e mentiras Um jogo duplo de azar e sorte A ciência abre as suas asas A esperança à frente como um guia Com São João na reza, a pajelança A intervenção de Xangô na magia Neste canto aqui da poesia Casa da fantasia e da razão Abre-se a porta, entra um novo dia Pela janela adentro um coração ♪ A voz do bardo a bordo da alvorada O sol da aurora secando o pulmão Ano passado, se eu morri na estrada Vai que esse ano não morro mais não É pra montar no lombo da toada Desembarcar do trem da pandemia É pra fazer da rima arredondada O rompante final de uma alegria Vamos em frente, amigo, vamo embora Vamo tomar aquela talagada Vamo cantar, que a vida é só agora E sem cantar, amigo, a vida é nada