Não me negue um carinho, pequenina Só teu toque alivia o meu desgosto Ponha rendas de neve no meu rosto Deixe a névoa cobrir minha retina Nosso amor sonolento não termina Quanto mais acossado, mais respira Desamarre as cortinas, traga a lira Me acalente, me acalme, não se importe Ronca o céu, treme a terra, abala o norte Se esparrama uma sombra sobre o sul São o sonho e a noite irmãos da morte Só sobrou nós dois num manto azul Se resguarde dormindo nos meus braços Dance livre de véus em minhas veias Deixe o vento levar com as areias Minhas contas de dores, meus cansaços Não pretendo juntar os meus pedaços Só queria esquecer a voz da fera Para que cicatriz se a carne espera? Sob o vão da ferida mais um corte Ronca o céu, treme a terra, abala o norte Se esparrama uma sombra sobre o sul São o sonho e a noite irmãos da morte Só sobrou nós dois num manto azul Pra escrever pelos muros, nos escombros Já não lembro um só verso dos poetas Nem recordo das frases dos profetas Que acenderam o calor dos desassombros Sem as armas pesando nos meus ombros As razões de morrer pra trás ficaram E aprendi dos amigos que tombaram Só importa a certeza, o resto é sorte Ronca o céu, treme a terra, abala o norte Se esparrama uma sombra sobre o sul São o sonho e a noite irmãos da morte Só sobrou nós dois num manto azul