Eu tive sonhos em que vi Esses belos olhos negros. E tudo o que eu vivi Contigo são segredos. Vidros partidos, pratas usadas O sol brilhava nestas ilhas Mas já não brilha não há magia Polícia vem e ameaça A criança brinca com a pistola No bairro a sinagoga. O fumo afoga toda a magoa A raiva solta numa richa O sangue esguicha. A mente desconfia O olhar fixa no vazio Como segredo a sangue frio. A cada tiro de cada pistola O céu retira-se, como um papiro que se enrola. A vista universal chora Quando brilha, o sol da revolta No fio da ponta e mola Embriagados em notícias, Em imagens inéditas, apocalípticas. Esquecer as coisas belas vividas E chorar nas falésias místicas. Quero sentir que todo o esforço não foi em vão Fugir do sangue espalhado no chão. Quero fugir da arma, largar o drama Tentar limpar o karma, tocar a alma. Eu quero abrir as portas da precessão, E por um selo sobre o corte do meu coração. Que o vento sopre, agora é hora da minha morte. Eu tive sonhos em que vi Esses belos olhos negros. E tudo o que eu vivi Contigo são segredos. Sonhei que andei no meio Dos sete castiçais de ouro Com doze criminosos Olhos como chamas de fogo. Olhei ao céu de novo e vi as almas do povo A serem elevadas ao som de palmas e trovoadas. O filho da madrugada reaparece O bem aventurado faz uma prece, por ti! Sofres-te tanto, neste antro Dizes que canto abensuado pelo espirito santo. Vivi, como o último dia morri pro mundo Longe do sangue e do mal Eu procurei o mais alto ideial Nunca encontrei em templos Igrejas com monumentos, queria respostas. Comi as hóstia, mas vomitei as orações faladas Como meras repetições vagas. Mas não sentidas, chorei por dentro Curei as feridas com o meu sal O mal, que me assombra é fatal. Eu tive sonhos em que vi Esses belos olhos negros. E tudo o que eu vivi Contigo são segredos. O dia da morte é como oh juízo final Como um relâmpago, um armagedom pessoal. Ouvi os canticos de salomão que me acordaram Desci as escadas até ao portal .Alguém se esconde numa emboscada de madrugada Sua cara de terror de uma rusga polícial. Gatilhos que soltam em dias sombrios Balas falham alvos Quem atingem sem abrigos, sem motivos testemunhas. PJ's sanguinários Faço uma oração nas ruas pelo pessoal que eu paro Na grande tribulação Estamos todos em delirio numa alucinação Eu ouço uma voz que grita, "alguém me ajude!" A rua cheia de putos rudes Na confusão eu vejo um amigo meu abaixado agarrado a barriga Apanhado desprevenido por uma bala perdida Enquanto falava ao telefone com a sua amada querida. Quero sentir que todo o esforço não foi em vão Fugir do sangue espalhado no chão. Quero fugir da arma, largar o drama Tentar limpar o karma, tocar a alma. Eu quero abrir as portas da precessão, E por um selo sobre o corte do meu coração. Que o vento sopre, agora é hora da minha morte Eu tive sonhos em que vi Esses belos olhos negros. E tudo o que eu vivi Contigo são segredos.