Eu não nasci mulher Não assumo todas as culpas da humanidade Vocês jogaram pra mim essa responsabilidade Não quero carregar nenhum carma Nunca quis ser parte desse éden Não nasci mulher Não é uma sociedade aonde todos Os homens fazem o que querem, apenas alguns Os brancos, cisgeneros, ricos, héteros Esses que mantém o patriarcado e a branquitude que nos Impede realmente de seguir em uma equidade Superem, não nasci mulher Não nasci errando Não nasci errado Vocês que pensaram que esse era o papel certo pra mim Mas não é Cresci lutando, pra tentar me encaixar nesse lugar Assumindo toda a cisgeneridade carregada que colocaram Num saco e mandaram eu levar empurrando Como um castigo Por cada pedra atirada em cada vida trans marcada E manchada por sangue antigo Não nasci mulher, só nasci com o fardo carregado Que vocês me deram na certidão Proibido de estar no culto, de me opor aos insultos De ter respeito mútuo e de causar tumulto Sucumbido ao desrespeito coletivo De quem pode ter lido mil livros Mas ainda assim achar que meu corpo É propriedade publica, e que pode opinar sem motivo Não nasci mulher, a cisgeneridade quis definir meu destino Me colocar em cárcere privado com muro invisível Mesmo assim, é impossível Me privar de ser incrível De decidir meu próprio ritmo Ou como meu corpo pode ser visto Minha identidade, eu decido! Se um dia eu escrevi algo que me afirmava quanto cis Quanto mulher Eu só não sabia que dava pra ser diferente Eu só queria me encaixar Nas caixas que me deram de presente Que ditavam meu futuro Mas não dá pra aprisionar um espírito livre E essas caixas são frágeis, a cisgeneridade é falha E eu não preciso dizer mais nada Gênero é construção social Que foca no genital As estruturas do normativo Que ditam a opressão E eu vim por tudo abaixo Eu sou a demolição Eu não queria aceitar, eu não podia compreender Hoje eu posso ver Ser mulher ou não ser Não é questão de nascer