Kishore Kumar Hits

PlayerDaking - Aviões de Papel lyrics

Artist: PlayerDaking

album: Aviões de Papel


Eu sei que sofres em silêncio e que cobras a ti mesmo
Esse sigilo cinzento que cresce em ti
Sentes que morres por dentro e esqueces cada momento
Nesse sigilo cinzento que cresce em ti
Infância vai embora memoria vã e inglória
Criança adulta que hoje em dia ainda tem memórias
Isto não é um som de amor, mas isto tem história
Eu 'tou a tentar perceber por que é que a minha mãe chora
Infância vai embora, memória vã
Criança que ainda chora pela mamã
Quatro crianças numa casa sem posses
Vêem a mãe ser violentada sem hipóteses
E ela não tem mais forças cada vez faz mais esforços
O pai traz terror a casa e nem tem remorsos
Ele foi nascido e criado no porto
Minha avó dizia que desde miúdo ele tinha o diabo no corpo
Um dia ainda aparecia morto esfaqueado ou afogado num poço
Que trazia maldade no rosto e com a idade revelou-se
Porque nos odeias tanto, não temos culpa de ter nascido
Sóbrio das uma de santo com a desculpa de teres bebido
Porque descarregas em nós os erros por ti cometidos
Porque renegas a família que devias ter protegido?
Era suposto passarmos fome e tu vires com casacos novos
E essa puta que nem tem nome, tu da-lhes uns sapatos novos
Nos sermos pobres p'ra ti é uma brincadeira
Não vês que ela só ama a tua carteira
Mas é com ela que gastas, é ela que tanto adoras
O sexo dela vicia e merece ir jantar fora
Só te explora não vivem amor nem histórias
Só tem o corpo p'ra te dar e em troca, dás-lhe ouro e jóias
A nós mandas a cara que mais valia ir pedir esmola
Bastava que te importasses, perguntasses como vai a escola?
Queres jogar a bola, mas nem vontade mostras
Custava demonstrares que tinhas saudades nossas?
Nunca te esforças só queres é noites loucas
Olha para a minha mãe, não vês o quanto a magoas
Quando a atraiçoas só nos amaldiçoas
Percebe que somos nós que sofremos com as tuas escolhas
Não respeitas a mulher que depositaste confiança
À que juraste amor eterno quando trocaste alianças
Alimentaste esperanças nessa juventude intensa
Tu prometeste amá-la na saúde e na doença
Cada atitude uma sentença, causaste tanto sofrimento
Ela morre por dentro, sentada a um canto inerte
Enquanto berras ameaças e dizes que um dia a matas
A sufocas com o cinto e a deixas no chão de gatas
E ela grita "Não me batas, os miúdos estão a ver"
Mas ele não quer saber, porque ele só quer bater
E se nos portarmos mal, ela encobre e assume a culpa
Para nos livrar da raiva desse pai filha da puta
Ela só dorme, não come está na cama todo o dia
Memórias são tão más que não há fotografias
Já nem da atenção às filhas, não dá colo, não dá mimos
Só chora e afoga a dor em álcool e comprimidos
Sai à rua com vergonha a enxaguar as lágrimas
Óculos de sol e um cachecol para disfarçar as marcas
E está tão farta do martirio a que se expõe
Que só pensa em suicídio cada vez que vê um comboio
Ela sente-se depressiva, e a vizinha que espreita
Diz não te rendas a essa sina, não vês como te desleixas
Tens que pensar nos teus filhos e em ti, porque não o deixas?
Mas ela ainda o ama e não quer apresentar queixa
Ainda tem esperança que ele volte para seu lado
Diz que as putas com que ele anda o devem ter embruxado
O amor é cego, o amor é pecado
Enquanto houver amor ele será perdoado
A família não quer saber, nem se chegam à nossa beira
Dizem que não se querem meter, mas metem lenha na fogueira
Só desdenham a vida alheia com moral de ser parente
Mas se for p'ra enxer a geleira já ninguém se chega a frente
Porque ninguém chega a tempo e nós vivemos com medo
Na escola sem amigos, em casa sem brinquedos
O SASE é que paga os livros, a mãe não tem capital
E vivemos nesta casa esquecida pelo pai natal
Mãe, se eu pudesse dava-te milhões em papel
Na janela a brincar com aviões de papel
Um dia eu serei rei num castelo e dou-te um reino
Diz aquele puto gordinho sempre com o mesmo fato de treino
O que relato é um retrato e não um guião estudado
De facto, não há união nesta união de facto
E so queria que hoje em dia não se notassem mazelas
E esquecer o que se vivia nessa casa à luz de velas
Minha mãe está envelhecida guarda o seu trauma p'ra ela
A morte da minha avó levou sua alma com ela
Sempre viveu insegura e nunca teve apoio em nada
Mulher amargurada nunca se sentiu amada
Se eu pudesse, construia a maquina do tempo
P'ra mudar o passado e poder dar-to de presente
O que plantasse no passado daria frutos no presente
E hoje em dia o teu passado teria um futuro diferente
Eu faria com que tu escolhesses o melhor pra ti
Daria mais que o mundo p'ra tu voltares a sorrir
O meu desejo profundo é que nunca tivesses sofrido
Mesmo que eu nunca tivesse nascido
Nos escombros das sombras que assombram em mim
Eles sondam-me, encontram-me e sopram-me ao ouvido
Insistem p'ra eu contar o que sempre escondi
E esta talvez seja a letra mais dificil que eu escrevi
Eu sei que sofres em silêncio e que cobras a ti mesmo
Esse sigilo cinzento que cresce em ti
Sentes que morres por dentro e esqueces cada momento
Nesse sigilo cinzento que cresce em ti
Infância vai embora memória vã e inglória
Criança adulta que hoje em dia ainda tem memórias
Isto não é um som de amor só porque tem drama
E a minha mãe chora porque é humana
Infância vai embora memória vem
Criança que ainda chora pela mamã

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