Quando eu era sitiante lá no alto da cascata Eu tinha um burrão ligeiro, não precisava chibata As ferraduras batiam que nem pica-pau na mata Ali eu tinha fartura, um lavourão de batata Porco gemia na faca, gordura estufava a lata ♪ Toda tarde eu escutava o coaxar do sapo-intanha No ronco da cachoeira, o monjolinho na manha No dia que eu não caçava, eu ia fazer barganha Só a noite que eu voltava naquela boca de entranha Que eu jantava escutando onça urrar na montanha ♪ Todo o final de semana eu ia na pagodeira Com a morena mais bonita, eu sambava a noite inteira Eu parecia um cuitelo num jardim só de roseira Na viola que eu tocava, não usava braçadeira Em todas festas de reis eu fui mestre de bandeira ♪ Hoje moro na cidade, mas a vida não tem graça Não é como aquele tempo que eu mostrava a minha raça Aqui eu vejo miséria, bagunça e muita arruaça Lá na roça eu bebia pinga fresca na cabaça Eu já fui caipira rico, hoje sou um bobo na praça