Poema do Semelhante O Deus da parecença O que nos costura em igualdade O que nos papel-carboniza em sentimento O que nos pluraliza O que nos banaliza por baixo e por dentro Foi este Deus que deu destino aos meus versos Foi ele quem arrancou deles a roupa de indivíduo E deu-lhes outra de indivíduo ainda maior Embora mais justa Me assusta e acalma Ser portadora de várias almas De um só som comum eco Ser reverberante Espelho, semelhante Ser a boca Ser a dona da palavra sem dono De tanto dono ela que tem Esse Deus sabe que a palavra "alguém" É apenas o singular da palavra "multidão" Eee mundão Todo mundo beija Todo mundo deseja Todo mundo almeja Todo mundo chora Alguns por dentro Alguns por fora Alguém sempre chega Alguém sempre demora Um Deus que cuida do não-desperdício dos poetas Deu-me essa festa de similitude Bateu-me no peito do meu amigo Encostou-me a ele Em atitude de verso beijo e umbigos Extirpou de mim o exclusivo: A solidão da bravura A solidão do medo A solidão da usura A solidão da coragem A solidão da bobagem A solidão da virtude A solidão da viagem A solidão do erro A solidão do sexo A solidão do zelo A solidão do nexo Esse Deus soprador de carmas Deu de me fazer... Parecida Aparecida Santa Puta Criança Deu de me fazer diferente Pra que eu provasse da alegria De ser igual a toda gente Esse Deus deu coletivo ao meu particular Sem eu nem reclamar Foi ele, o Deus da par-essência O Deus da essência par Olha, não fosse a inteligência da semelhança Seria só o meu amor Seria só a minha dor Bobinha e sem bonança Seria sozinha minha esperança