A noite é cancha suprema Dos que se avistam co'a morte Avança seus contrafortes Num passo de soberana A noite, velha cigana Sempre agourando má-sorte Porque no luto da noite Todos os gatos são pardos Os cachorros são mais brabos Porque o pior não é visto E a noite traz sempre um susto Noutro susto acolherado Quando vigora o silêncio Quem se alvorota, se mostra A frente se iguala às costas Porque a visão não perfura A noite, velha impostora Onde a vida é uma proposta Onde a existência não dura Mais do que brilho de adaga Logo, logo um corpo traga O brilho pelas entranhas A noite só joga às ganhas A noite aposta e não paga E os habitantes do escuro Têm que manter seu segredo Se o dia não vem tão cedo E a noite não tem janelas Ninguém escapa do enredo Há que se agir sem apuro Há que por freio nos nervos Há que vestir-se com ela Por isso os ponchos são negros