Eu li, um dia, sobre a rosa Viçosa como mais nenhuma Que se balança sobre a espuma E se insinua perigosa Eu soube dessa e de outras rosas E conheci eu mesmo algumas Vestidas umas e outras nuas Umas de verso, outras de prosa Mas volto sempre àquela rosa Nascida sobre a sepultura Brindando a morte prematura E ainda sorri, e ainda goza Ao ver fugir uma menina Às vezes lembro de outra rosa Vasta, cruel e criminosa A rosa quente de Hiroshima Mas volta sempre aquela rosa Que em triste dia se sublima E tira d'água a alegria Vencendo a morte tenebrosa Mas outra sorte, a da guria Que sem querer plantou a rosa Noiva tão breve e tão formosa Deixou a flor com sua vida Que maldição, quanta ironia! Pode um destino tão traiçoeiro Levar a vida de uma menina Só pela flor do seu cabelo? Assim, de um gesto tão covarde Floresce agora a cada ano A rosa linda e inquebratável Que vive além do alcance humano Rosa que em sua eternidade Relembra em cada primavera O rancho que virou tapera A moça que virou saudade