Havia um ancestral, faz muito tempo Era um primata só, tão indefeso E as feras espreitavam no silêncio Cheirando o rio de aromas que há nos ventos Aquele homem vão não chegaria Por força de si mesmo aos nossos dias O fim da nova espécie era provável Afora acontecesse algum milagre Porém, do alto um deus ergueu o dedo E a terra estremeceu de angústia e medo Foi chuva, frio, foi breu, e ouviu-se o estrondo Do raio que fez luz / ao tenebroso Vencendo o medo, então, o homem quis Botar no fogo a mão, e a luz se fez E armado assim, viveu, mas não feliz Porque também viver tem seu talvez A noite, hoje, é igual, e ainda põe medo O fogo elementar também é o mesmo O homem, que sou eu, também já era E os olhos claros teus são essas feras Andejo deste sul, no vão da noite Eu sou um vulto curvo junto ao fogo Guardando o meu olhar, vidrado e turvo Pois sei que rondas tu e ao meu descuido Virão teus olhos me matar de novo