Um dia deram-me uma semente Fechei-a na mão, corri a mostrá-la a toda a gente Inocente, exibi-a com orgulho e entre os dentes disse-lhe Vou-te dar o mundo, sê paciente Procurar um sítio onde O solo seja fértil e te fecunde As nuvens chorem e o sol não se esconde Mas nos subúrbios sítios desses existem onde? Existem onde? O solo é de cimento, o céu é tão cinzento Nuvens densas condensam os raios de sol lá dentro Existem muitas pessoas por metro quadrado de área Que antes de nascer tu já estás a ser calcada Abri a mão, senti-te na minha palma Eu não menti, juro-te do fundo da alma Dou a mão à palmatória, é aqui que a história acaba Comecei a dar-te o mundo e acabei por dar-te nada Acabei por dar-te nada Acabei por dar-te nada Comecei a dar-te... Nada De repende sopra uma rajada de vento Tento fechar a mão não fui a tempo Foges entre os dedos Entro em desespero, espero o amanar desse sopro e apelo Para o teu bem estar pouco a pouco Arrumo tudo para o lado, rumo em direção a ti Mas cada vez sopra mais, eu nunca mais te vi Eu corro para ti, por ti aqui perdido Decidido a encontrar-te mas sou mal sucedido E eu só queria dar-te sol, água e sustento Dar-te amor, afeto e parte do meu tempo Desorientei-me sem rosa dos ventos Ao ver-te levada ao sabor do vento Ao sabor do vento Ao sabor do vento Eu nunca me esqueci de ti, apenas de ti Moras com barreiras para não me lembrar Que era aqui o sítio onde devias estar Desafiar a gravidade, lutar com raízes Libertar sementes mais tarde É verdade, acredites ou não Não há um dia que passe sem que me assombre a razão O dia em que sem contar ia quando um passar De um vento forte e tu escapaste da minha mão Sabes, quem me dera que isso não tivesse acontecido Porque apesar de tudo também podias ter sido Um cravo numa ponta de uma espingarda Uma flor num ramo misturada numa mão apaixonada Ser um malmequer com as pétalas certas Para lhe dizer que não lhe queres nas certas alturas Ser uma hera, trepar muros e moradias E brilhar todos os dias sem medo de alturas Um girassol numa terra qualquer Ou uma flor no cabelo de uma mulher que se põe gira ao sol Ou então um dente de leão Que espalha sementes ao vento em qualquer direção Mas não o és e eu sei a razão É porque não consegui fechar a tempo a minha mão E desde aí que eu anseio o teu perdão Desculpa, perdoa-me, talvez já não te lembres de mim Quando era pequeno quiseste dar-me um jardim Procuraste mas no fim não me encontraste E o vento levou-me para fora desse contraste Assim nos separamos e eu ainda te vi correr Mas ele soprou mais até que nos deixamos de ver Eu nem te sei dizer para onde me levou Mas era tudo aquilo que a tua boca me falou Havia calma, água e luz no solo Havia espaço, hamonia e luz do sol Havia tudo ou quase tudo no mesmo espaço Mas faltava-me o amor desse teu abraço Por isso, pedi-lhe que me levasse de volta Que me deixasse cair mesmo à tua porta Onde é difícil crescer mas não me importa Eu sabia que havia forma de dar a volta E apesar do meio não ter o que eu queria Nos subúrbios nuvens não se comovem, o sol não brilha Dizem que existe tudo no meio do nada Quantas vezes eu te vi sentado nessa calçada Desanimado com a vida Despedaçado com a partida de entes queridos Que não te avisaram da data da ida Inconformado por não teres ninguém ao lado Com quem partilhar os medos que te têm inquietado O silêncio não se cala, tens encontro com a solidão Ninguém te fala e os amigos não te encontram Foste vencido pelos princípios que defendes Amas ser livre e é por amor que te prendes Nessa altura fazes algo que não te apercebes Os teus olhos são nuvens e a chuva que me concebes É força motriz que faz a minha raiz brotar E desafiar as leis da sobrevivência deste lugar Há dias em que te sentas nessa calçada Rasgas a cara com um sorriso, narras as vitórias que travas Neste piso e nesse preciso instante Dás-me o que precisas tanto Sem te aperceberes do quanto e foi assim que Eu cresci por aqui Não há nada no meio mas há tudo em ti Os teus olhos fazem chuva e a tua boca sol quando ri Tu és aquilo que fazes com tudo o que fizeram de ti, acredita Confome uma planta A água e o sol servem para fazer a fotossíntese Tu vives e cresces no seio do amor Das lágrimas e o sorriso de quem te ama Irmão a vida é simples Faz de ti a flor mais bonita do teu jardim Não tens que ser mais que os outros Mas tens de ser o mais bonito aos teus olhos Mais simples e mais puro meu irmão Percebeste o que é que uma semente tem a ver contigo? O que é que uma flor tem a ver contigo? O que é que um jardim tem a ver contigo? Espalha esta palavra a um amigo