Batem-me à porta, quem é? Ninguém responde, que medo Que eu tenho de abrir a porta Deu meia-noite na Sé Quem virá tanto em segredo Acordar-me a hora morta? Batem de novo, meu Deus! Quem é, tem pressa de entrar E eu sem luz, nada se vê A lua fugiu dos céus Nem uma estrela a brilhar Batem-me à porta, quem é? Quem é? Quem é? Que pretende? Não abro a porta a ninguém Não abro a porta, ainda é cedo Talvez seja algum doente Ou um fantasma, porém Ninguém responde, que medo Será o fantasma dela Da que matei, não o creio! A vida, a morte que importa Se espreitasse pela janela Jesus! Jesus, que receio Que eu tenho de abrir a porta Feia noite de Natal A esta hora o Deus Menino Já nasceu na Nazaré Não há perdão para meu mal Calou-se o Galo, e o sino Deu meia-noite na Sé Continuam a bater Decerto que é a Justiça Pra conduzir-me ao degredo Matei, tenho de morrer Oh! Minha alma assustadiça Quem virá tanto em segredo? Seja quem for, é um esforço Vou-me entregar que tormento Que me vence e desconforta Ninguém bateu! Oh! Remorso Não é ninguém, é o vento Acordar-me a hora morta