Enquanto visto a minha blusa Eu abro a janela Inalo a tela de um quadro pintado com aguarela Quando só queria ver qual era o clima certo Está frio, esta leve brisa deixa-me desperto Sempre me disseram que o amanhã sou eu que o faço Sou eu que escolho a imagem vista do meu terraço Sou eu que tomo a decisão dentro deste espaço E hoje só me deparo com uma visão de betão e aço Será que devia ter escolhido outro caminho? Se sim, guardarei pra sempre a dúvida comigo Porque a vida é uma questão de escolha múltipla A descontar anos de vida por uma decisão estúpida Apenas contemplo isto por minha culpa Uma obra borrada com água, sem tinta e chuta Apetece-me gritar apesar de ser um gajo contido, Mas se hoje chover, chuva leva-me contigo Através dela analiso vidas que a deixam disperta Com olhos longe do mau olhado focados numa rua discreta Mudam caras e tecidos indecisos de uma era Em cravadas e fatos cinzentos que caracterizam quem governa Alguns divididos entre o bom salário e boa perna Que preenchem os requisitos necessários para mais tarde lhes passarem a perna Sorrisos, são nítidos a quem os beijos não lhes custaram nada S é cruzes e jogos à espera que dois traços lhes paguem a casa Sinto, que a cada estação se renova a sua energia A mudança das cores da vida lhe transmite maior alegria A subtileza da sua presença é de extrema importância Aprendi a valorizá-la e a usá-la em observância E eu, vejo que o meu vizinho da frente vê mas d'outra perspetiva Não é pelos lados opostos, mas sim porque ele tem vida melhor que a minha E é atravês desse vidro que vejo caras desgastadas e suicidas Não é porque tenham morto algúem, é porque se matam para ter melhores vidas Janelas, que encobrem Se quebram, libertam Seja sol ou chuva que entra Janelas, do tempo que sabem quem fomos Não há promessa, não há plano, nem reflexo Aproximei-me da janela para ver a lua Mas o Inverno nunca larga esta cidade escura E no vidro embaciado onde bate a chuva Eu quis desenhar com o dedo a minha pintura Eu quis fazer uma cidade em miniatura Inventar uma paisagem naquela moldura Se do contacto com o vidro opaco nasce uma figura Quis fazer do traço - esboço, projeto de arquitetura Quis fazer d'uma janela a tela daquela rua Como se fosse um cenário para um filme de aventura Em que tudo é possível desde que seja loucura O mundo está a óleo com a minha assinatura Onde toda a gente encontra aquilo que procura Quando abre uma janela para ver a lua Mas como não sei desenhar, atrevi-me a ser poeta E na vidraça molhada escrevi antes esta letra