Só pra avisar Que nada vai ficar retido na minha laringe/ Teu monopólio da verdade, morreu, quando eu Matei o tu que eras eu/ Pra nascerem novos mims Livre Das gavetas, grilhetas e tretas/ Que espalhas por ecrãs e boletins/ Eu vim com cometas por mais que tu metas barreiras Não me restringes/ Por mais que cometas matanças ruins Por mais que me metas por andanças ruins/ Contínuo aqui, Ogum abre os caminhos/ Pra que eu nao morar Nos teus confins Capinar os teus jardins Limpar os teus camarins Numa vida que fica a meio Na fronteira, plantação Ou na prisão onde me cinges/ Ou que nunca chega à meio Quando esse joelho me sufoca E a tua bala me atinge tinges As ruas a vermelho Mas vou tingir a rua Com um mar de gente preta e machins/ Finges A mim não enganas com um preto na TV, dois ou três manequins/ A mim não me enganas com cmtv Metida em todos os botequins/ Finges Bates-te bué, mas sabes que finges Bates-te todo, mas sabes que finges/ Eu não sou um meio Pra atingires os teus fins/ Já não sou do gueto, onde me puseste, eu vou voltar pra minha esfinge/ Já não sou um preto A mim e xei di kor Minha alma não é gueto é Kilombo Tu já não me restringes/ Viajo num 808 riba dum bombo Tu já não me restringes As tuas ideias feitas, feitorias Teus feitos, feitores e afins/ Tuas epopeias, seitas, reitorias Teus anjos e querubins/ Aos saberes e as histórias que tu me impinges/ Sofrimento das memórias que tu me infliges/ E que eu me inflijo A querer ser um quinto de ti Quando bastava ser eu por inteiro pra ser feliz Neste que corpo que disseste não ter alma há tanta luz Que ofusca a tua história eu Infrinjo O teu cinzento com tanta cor Que sentes serem motins Sentes serem motins No mundo monocromático Onde és rei e senhor a incutir o teu latim Ficar com o latifúndio/ E pôr-me a tirar capim/ Dar a fala pôs colonial quando ainda estás em África A cavar ouro a arrancar marfim/ Com essa conversa De Lisboa nova, tens um toque de Midas/ Tudo o que pegas que era meu Meu agora é nosso, daqui a pouco e teu, pelo meio roubas vidas/ Mas faz bom proveito Vai com a farinha Já tenho outro kus kus a subir em água fervida/ Tu e esses meus lideres que vivem de disparar hashtags Com o nome dum preto morto/ Mas eu quero é celebrar um preto em vida/ Em vez de hostilizar um preto em vida,/ Pa ser o dono da negritude na casa grande ver minha fala aplaudida/ No lugar da fala onde só fala a elite preta Enquanto outra preta faz a lida/ E há sempre um branco que valida/ Ou há sempre um branco que invalida/ Eu quero é celebrar uma preto em vida/ Mano eu ando farto dessa imagem combalida/ De pretos a morrer no passeio/ Brancos a marchar no BLM tipo um passeio/ A achar que sabes aquilo que passei/ Quando não sabes explicar Meu património na vitrine do teu museu mas eu sei Este preto não vai levar a vida em branco, vou partir-te o rins/ Marcar um golo tirar a Camisa, mandar foder o estádio e ser expulso Mas não sem que antes erga o meu punho e enrijeça o meu pulso/ E fique de frente para o racismo que expressas a cada impulso/ Vou ser Marega Claudia Simões Giovanni Flavio kuku Mussu todos e todas mais Vou ser a força dos meus ancestrais A transbordar por todos os meus portais/ A unir todos os códigos postais E portanto hoje és tu que cais/ Hoje não vais ter mais pretos pra vender no cais/ Hoje não vais ter mais pretas para penetrar violentamente E depois voltar para o teu leito de facínoras com títulos senhoriais/ Hoje és tu que cais Derrubo as estátuas a esse monumental fracasso A que chamas democracia, civilização Mas fez de mim mercadoria pra financiar o mercado de capitais/ Hoje dou um tiro no bicéfalo Morre um branco morre um preto E nasci eu: pretu – xei di kor