Foi num dia de merda Num outono qualquer Descuidado, na pressa Fui de boca às muralhas Que andavas a erguer Espetei o arado na terra Escavei-te o olhar Tu tiraste a acendalha Acendeste o churrasco Churrascaste o jantar Ateaste-me as palavras E atiraste as cinzas para o mar Fogo posto nesta mágoa Que eu insisto em carregar Miseráveis os costumes Deplorável a balada Foi um mundo Que tinha tudo Para não dar em nada Desmoronaste essa farsa E convidaste-me a ter o prazer De poder ser teu comparsa Passear pela vida Que passa a correr Eu neguei o convite Nesse dia fatal Fui direto ao encontro Daquela conversa Que levavas a mal Solta um grito de raiva Quando assim tem de ser Se tu eras o paiva Não fui o isqueiro Que o foi acender Ateaste-me as palavras E atiraste as cinzas para o mar Fogo posto nesta mágoa Que eu insisto em carregar Miseráveis os costumes Deplorável a balada Foste um mundo Que tinha tudo Para não dar em nada E eram os louros só para mim Refogados num pitéu E era a incerteza não ter fim Filha de alga e macaréu E eram sonhos de um puto Que não soube sair Da aldeia que o viu crescer E era um dia de merda Num outono qualquer Do churrasco fiz perfume Do incêndio fiz queimada Da incerteza Fiz bagaço e marmelada Da miséria fiz costume Do arado fiz enxada Corri mundo Vendi tudo A quase nada