Ele é assim,
Sem jeito e desastrado,
Ele mal sabe a rua aonde vive,
Sabe que é de Lisboa,
Ao pé de Moscavide.
É mesmo assim,
Bate contra as portas
E até esquece a chave em qualquer mesa.
Quando sai do trabalho,
Ele deixa com certeza,
Casaco no cabide e a luz acesa.
Perde as compras,
Esquece os pontos,
Deixa espirar os descontos.
Troca nomes, esquece o mês,
Uma e outra, e outra vez.
É um cabeça de vento.
Vai ao banco no domingo,
Grita linha quando é bingo.
É um cabeça de vento.
Mas de viver ao seu sabor,
A vida fez-lhe um favor,
Porque um dia tropeçou no amor.
Ele é assim,
Deita tudo ao chão
E nunca vê,
Aonde põe os pés.
Até tem um mestrado a entornar cafés.
Ele guia mal,
Nunca muda o óleo,
E nem vê:
"O que é aqueles sinaizinhos de aviso?"
Nunca trata de nada,
Mesmo do que é preciso.
Só lá vai com multas e improviso.
Troca as faixas, na rotunda.
Reduz de quinta p'rá segunda.
Troca nomes, esquece o mês,
Uma e outra, e outra vês.
É um cabeça de vento.
Vai ao banco no domingo,
Grita "linha!", mas é bingo.
É um cabeça de vento.
Mas de viver ao seu sabor,
A vida fez-lhe um favor,
Porque um dia tropeçou no amor.
É um cabeça de vento.
Troca a altura p'la idade,
Vê o Benfica em Alvalade.
É um cabeça de vento.
Mas de viver ao seu sabor,
A vida fez-lhe um favor,
Porque um dia tropeçou no ...
Porque um dia tropeçou no amor.