O café da esplanada Já não é o mesmo, amor Já não sabe ao que sabia Vem aguado, está sem cor A nossa vizinhança Não esperou pela demora O casal, com quatro filhos Mudou-se hoje, vai embora E eu sei Já não olhas para mim Daquele jeito do costume De levar um longo olhar até ao fim E eu sei Não nos rimos como dantes Parecemos uns amantes Numa sala que é dos dois Mas de nenhum Conheço-te tão bem Mas não conheço mais Vestiste uma camisa Nem fui eu que te a comprei Conheço de ginjeira O que guardas na carteira Retrato que é dos dois Desgaste do depois E fugiram anos A velha do primeiro andar Seguiu p'ra outro sítio Tantas vezes se metia A comentar em ousadia Mas talvez já soubesse quando um Ia de elevador, e o outro andou Escada acima, não esperou Escada abaixo, nem notou E eu sei Já não olhas para mim Daquele jeito do costume De levar um longo olhar até ao fim E eu sei Não nos rimos como dantes Parecemos uns amantes Numa sala que é dos dois Mas de nenhum E fugiram anos Eu nem sei bem como é que nós Acabamos por aqui Não foi nisto que eu nos vi Tu, do teu lado do colchão Já de costas e sem mãos Prontas para segurar Eu sei Já não olhas para mim Daquele jeito do costume De levar um longo olhar até ao fim E eu sei Não nos rimos como dantes Parecemos uns amantes Numa sala que é dos dois Mas de nenhum Conheço-te tão bem Mas não conheço mais