Na hora que aquela jamanta comprida Com as tampas decidas ali foi parando Olhei pra família, olhei pras crianças E a nossa mudança já estava esperando Pedi que ajeitasse em cima da Carga A mesa bem larga de jacarandá Porque lá na tulha socado até o teto Tem uns objetos que eu quero que vá E ali foram pondo enxada e machado O velho arado e a mão de pilão Um baú bem velho já sem dobradiças E as rodas maciças do meu carretão Até o velho cocho do fundo furado Que estava jogado no pasto eu catei Olhando essas coisas eu já me consolo Até o monjolo no corgo eu peguei Lá na velha tulha subi nas beiradas Catei as linhadas e as varas de anzol Peguei uma cela com rédeas e freios Que estava no esteio do velho paiol Parei no terreiro num canto de lado Catei um punhado de cinza e carvão Lembranças que eu levo talvez derradeiras Da antiga fogueira do meu São João Mas quando eu falei já pode tocar Desci para pegar o meu chapéu de palha Na volta peguei uma rosa em botão E beijei o chão do campinho de malha Em cima da carga fiz nome do padre E pro meu compadre abanei o chapéu Parece que eu ia pro inferno viajando E ali ia deixando meu mundo meu céu Até meu cachorro que eu já tinha dado Chegou apressado pra ver se era eu Chegou se apoiando nas patas dianteiras Subiu na rabeira e meu corpo lambeu Assim eu deixei o meu canto encantado Num dia nublado querendo chover E os meus objetos dos tempos antigos Vão ficar comigo até quando eu morrer