Ora, eles são patriotas, não leram Guimarães Rosa
Amam Miami e minas de buceta rosa
São liberais, liberdade fantasiosa
Pode transar, mas na transação é só um lado que goza
Qual é o Deus dessa nação religiosa
Que mata Jesus cada vez que aprova uma pauta?
Seja bem-vindo à essa sessão de banho e tosa
Onde Pilatos diz amém para oração do Magno Malta
Aqui, tradicional é uma família tupi
Guarani, carojês, aruaques, cariri
Corpos pelados, viu? Imagina os troca-troca no rio
Jaci, tupã, Guaraci, o Sol era o Deus do Brasil
Antes de um branco invadir, estuprar, engrupir
Se apossar, então roubar é o mesmo que descobrir?
O que eles são? Zoião, feitiço, fé, ficção
Pregação, que a nossa morte era um destino a cumprir
Armas pra intimidar, um céu pra te distrair
Crenças pra legitimar e a lei pra se garantir
Na linha fina entre Igreja e Estado, desce daí
De Vaticano e João, a Valadão e Jair
É carta branca, pra polícia quase preta
Matar gente quase sempre preta, a cor que acelera a ampulheta
E que ouviu seus orixás desde o porão do navio
Força pra não se entregar, axé pra quem resistiu
Ironia, me tomou pelo rádio e nem vi
Coração, contradição me consagrou MC
Foi ver os vilão no poder e meus herói na sarjeta
Nesse inferno que vocês criaram, eu abraço o capeta
Consagrei minha caneta, prestei bem atenção
Gestos de rua, longe da grua, espírito atua
Obras de arte que o hype num assina
Coisas que só o underground te ensina
Marvin de jeans do Assai, lá de Mauá, bonsai
Nego bala, eu tô pra ver até onde essas bala vai
É os kingblack me pede pá cantar o fora da curva
É meu DJ, carai, Kiva, o baile tá uma uva
São abraços quando termina o show
Amor de gente que nem sabe quem sou
Ainda bem, menos mal, nada bom, bom lembrar, não é por mim
Bom lugar, sabotá, pronde vou, fui e vim
Diploma, dessas resenha eu fiz sala de aula
Rubem, grade curricular tranca a jaula
Meu mano, sem piano não se descobre um Mozart
Escola não é sem partido, é sem carteira e sem lousa
Professor é formador de quadrilha
Ator pornô é o defensor da família
Minha sobrinha tá chegando no mundo
E eu vou zuar meu cunhado: só quem fraqueja faz filha
Meritocracia, meu ovo
É o meu povo que é mestre na ginga
É só plantar e colher, é pelo esforço que vinga
Cês num são foda? Vai lá e abre uma empresa na gringa
Abraça e acelera, cabaço
A cracolândia não acabou, só migrou pra outra praça
Eu ouvi que até a Globo é comuna
Cês consome essa porra há trinta ano e são reaça
O medo ativa o preconceito, eu sei
Moralizam mentiras, te embrulham em kit gay
Sei quem viu fake news até em letras de rap, agonia
Parece até que quem escreveu foi minhas tia
Ouça a voz que extrapola os jornais
Não há de quem não conseguiu interpretar Racionais
Somos mais, qualifique a água da fonte que bebe
É, Abebe, até diria que isso é a guerra dos cliques
Corrupção, erupção da preguiça, tiriça
Cena infantil, crianças brincam de Liga da Justiça
Pois ainda creio que a divina é aquela, não, da tela
Mas a que arde pra que um rico se converta à favela
Visão, compreensão, que pisa o chão de vielas
Expansão, seja o poder, que corre nas paralelas
Graça, que o amor renasça pra que juntos choremos as dores
Que nunca importe mais quais as cores das velas
Amor, amor
Que nosso amor não vire discurso
Que nossa luta não esfarele em vaidade
Que haja espaço e respeito por diálogo
E que sobre ousadia
Pra botar o dedo na cara de quem oprime e mente e mata
E que o Pai tenha misericórdia de nós
Humildade, autocrítica, pé no chão
Feliz Natal, adeus 2018
E que o novo ano traga novos ares
Que o sopro sopre como sempre soprou, sempre soprou
Contem comigo, amo vocês, Deus abençoe
Kivitz
Tamo junto
Todo mundo em casa? Todo mundo em casa?
Todo mundo em casa
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