Tudo que vem lá de cima é descida E a descida pra gente já não interessa Nós temos pressa de ir Escalar, de vencer e sair do buraco Anos levando essa vida aos trancos subindo barrancos Derrubando pedras Quando a gente não se desespera E espera da vida algo mais De quem cavou o seu próprio abismo E se perdeu em pleno salto Puxando os outros pra baixo pra se nivelar Toda essa sina inventada por velhos caducos Adultos de suma importância Louvando o peso que levam nas costas Com as asas cortadas da infância Quem tá de cima ri De quem de baixo tá Quem ousar ir em frente periga ter que ir embora Ou ter que se esconder sem ter o que esconder Enquanto pedras rolam, pelas frestas nós vamos passar E se atrás vem gente, ai de quem nos barrar Não há mais dentro nem mesmo fora Por trás da coisa esquecida Por entre feridas da mata, debaixo da terra Nossas crianças perdidas esperam A chance de nos ajudar E eu também já desci, já desci E me esqueci o que eram os sonhos Que mesmo com asas cortadas, podia voar E voar, não se limita em romper as nuvens