Paraíba, 1977
Antonia e Fabiano tava assim se namorando
Quando a seca arrochou cacimba barreiro tudo secou
Fome demais a conversa é poca,
Ora o caba novo vai simbora num tem outra
Com os zolho chei de água e com os mulambim na mala suspira e fala
"Bença pai, bença mãe, eu vou atras de um meio de vida
Num chore por mode de Deus e tô levando Toinha,
Vamo vê aventurar e se pega nalgum dinheiro eu venho aqui lhe buscar"
Debandaru na estrada escura, esburacada,
No balanço pau de arara de seu Zé de Canindé,
O bucho seco de tudo o peito cheio de fé.
13 noite, 13 dia passando pelas estrada, lá se vem os retirante
A Selva toda empedrada"
Barraco velho, pouca comida
Procura trampo noite e dia
Pra onde foi nosso sossego?
Nessa indústria, quase o dia inteiro
Barraco velho, pouca comida
Procura trampo noite e dia
Pra onde foi nosso sossego?
Nessa indústria, quase o dia inteiro
A boa nova que alivia (avistado cabra Joca)
Maio não será tanta sofrência
Alegria de pobre dura pouco!
Lágrimas consoladas pela parceira amada
Perdeu o emprego por confiar na pessoa errada
Ladrão ele não era, quem o denunciou afinal?
Levado sem mandado, injustiça dessa vida ingrata
Estou preso aqui, incerto e perdido
Eu exijo respostas, não há motivos para ser punido
Onde está você, preciso avisar
Me arrastarão de volta pra minha terra sem lugar
Passaram-se meses, apenas uma carta recebida
Após a transferência pra prisão da Paraíba
Toinha o avistaria em breve
A dúvida era a mesma na cabeça de Fabiano
Quem o incriminara e porquê?
O boato começou nas celas da prisão
Dizia-se que Joca fez o que fez
Porque queria ficar com Toninha, a mulher de Fabiano
Por ser apenas um chafrudo, Fabiano num dera ouvidos
Porém, nas semanas seguintes foi avisado
De que seus dias ali logo chegariam ao fim,
Pois haviam achado o verdadeiro criminoso.
Duas semanas depois do aviso
Joca aparece algemado no corredor da prisão
Onde sem entender Fabiano o avista
E ao mesmo tempo é informado de que sairia
Dali 3 dias devido a burocracia,
E ele tem um último desejo antes de sair: conversar com Joca.
Fabiano se prepara... É o momento
O que que é cê fez, desembucha rapaiz
Deixou minha vida aos pedaços a troco de que?
Diga lá cabra safado, vou botar muito mais lenha
Me lançou nesse inferno, que o capeta te tenha!
Ocê e tua muié eram sofrido demais
E a companhia d'ocês era o que trazia paz
E eu que jamais vivi isso, num pude acreditar
Cuma aliada daquela ninguém ia me derrubar
Com sede de vingança e um canivete na mão
Ele tinha hora e lugar marcado
Mas algo o barrou
E Joca ligeiro se aproveitou
Impossível retribuir com mal, aquele que agora me mata,
No desalento do meu desfecho, eu peço a Deus me dê graça
A vida não foi nos dada, para que seja tomada,
A maldade não acerta contas
A vingança é ingrata
Antônia querida me espere, desisti dessa desgraça
Minha viola e meus mininos esperem que logo
Tô em casa
Meu saudoso nordeste, meu agreste celeste
Vida sofrida, faminta passamos, não cederei pro inimigo
A fé, o verdadeiro alimento que nas piores esteve comigo
Livra-me de ser mais um qualquer
O que me sustentava, o que me sustentou é o grão de mostarda, é a fé
Estaria entrando na vida ou de fato saindo dela?
Pensamentos, lamentos se foram
Tô saindo dessa caverna
Quem me trouxe aqui tá perdoado
Meu sorriso se abriu
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