Num berço pobre nasci Num berço pobre nasci Embalado pela humildade Embalado pela humildade Pela humildade aprendi A aceitar minha identidade Que importa ter ou não ter Se posso ou se não posso O importante é saber Que nada no mundo é nosso Eu pouco sei escrever Eu pouco sei escrever Meu colégio foi a lida Meu colégio foi a lida E continua a aprender Na universidade da vida Esta vida que fascina Que dá lição por lição Vida que a todos ensina Uns aprendem, outros não Regalias, não as vi Regalias, não as vi Calças vi foi raridade Calças vi foi raridade Sapatos só conheci Com doze anos de idade Já andei de pé no chão Por pedregulho e silvado Sem fazer qualquer questão Sem julgar nem ser julgado Pois quem não tem pão, não come Pois quem não tem pão, não come Tive fome e não comi Tive fome e não comi Tive sorte, foi só fome Porque à fome não morri Este mundo, na verdade Me dá muita confusão Alguns comem sem vontade Outros, vontade sem pão Se um dia a boca não come Se um dia a boca não come O corpo sente fraqueza O corpo sente fraqueza Pior é morrer à fome E eu não morri com certeza Muito pior, certamente É ouvir pra ir certo fulano Com franqueza mentalmente Todos os dias do ano Nunca roubei a bem a ninguém Nunca roubei a bem a ninguém Prefiro a minha enxada Prefiro a minha enxada Se só quem rouba é quem tem Assim, outros vão ter nada Nem que seja só migalha Ou roubo de saca cheia Quem rouba só atrapalha E complica a vida alheia Estas quadras que aqui faço Estas quadras que aqui faço Daqui descobrem quem sou Aqui descobrem quem sou Por serem elas pedaço De mim que agora vos dou Ó gente tão acolhida Que me tens acompanhado Aqui faço a despedida E a todos muito obrigado