Foi sem mais nem menos Que um dia selei a cento e vinte e cinco azul Foi sem mais nem menos Que me deu para arrancar sem destino nenhum Foi sem graça nem pensando na desgraça Que entrei pelo calor Sem pendura que a vida já me foi dura Pra insistir na companhia O tempo não me diz nada Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada A ponte ficou deserta Nem sei mesmo se Lisboa não partiu para parte incerta Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar Sem paredes, sem ter portas nem janelas nem muros para derrubar Talvez um dia me encontre Assim talvez me encontre Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar De uma forma ou outra há de haver uma hora para a vontade de parar Só que à frente o bailado do calor vai me arrastando para o vazio E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu Talvez um dia me encontre Assim talvez me encontre Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar Será que existe em mim um passaporte para sonhar E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar Foi sem mais nem menos Que um dia selou a cento e vinte e cinco azul Foi sem mais nem menos Que partiu sem destino nenhum Foi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida quer Foi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer Mas Deus leva os que ama Só Deus tem os que mais ama.