Ontem ao chegar Você nem reclamou Do trânsito, cansaço ou do seu salário No controle remoto você procurava O pior do ser humano no noticiário Não se decepcionou, lá estava ela A doce violência em fartas quantidades Homeopáticas doses cavalares Uma boa noite cínico, propaganda e novela Juiz, Jurado, Carrasco Hoje ao acordar, você estava bem Tomou seu café, aprontou seu filho para escola Antes de ir ao trabalho viu o que não quis A selvageria bateu em sua porta Não precisou ligar a televisão Para assistir o verdadeiro vale-tudo Da sua janela se via o espetáculo Pessoas fazendo justiça com as próprias mãos Antes de dormir deletou a memória Como se tivesse sido anestesiado Você fingia estar protegido Mesmo sabendo que estava aprisionado Já se acostumou com a indiferença E o pouco valor que é dado à vida Vacinado pelo medo institucionalizado Aguarda tranqüilo a sua sentença