Parava no café quando eu lá estava Na voz tinha o talento dos pedintes Entre um cigarro e outro lá cravava A bica, ao melhor dos seus ouvintes As mãos e o olhar da mesma cor Cinzenta como a roupa que trazia Um gesto que podia ser de amor Sorria, e ao partir agradecia São os loucos de Lisboa Que nos fazem duvidar Que a Terra gira ao contrário E os rios nascem no mar Um dia numa sala do quarteto Passou um filme lá do hospital Onde o esquecido filmado no gueto Entrava como artista principal Compramos a entrada p'ra sessão Pra ver tal personagem no écran O rosto maltratado era a razão De ele não aparecer pela manhã São os loucos de Lisboa Que nos fazem duvidar Que a Terra gira ao contrário E os rios nascem no mar Mudamos muita vez de calendário Como o café mudou de freguesia Deixamos de tributo a quem lá pára Um louco a fazer-lhe companhia É sempre a mesma posse o mesmo olhar De quem não mede os dias que vagueam Sentado lá continua a cravar Beijinhos as meninas que passeiam. São os loucos de Lisboa Que nos fazem duvidar Que a Terra gira ao contrário E os rios nascem no mar