O que é q'tu sentes? Toda a hora está a morder os dentes, agarra na mão Eu já não sei o que é ter os pés assentes, pés assentes no chão Tenho uma garrafa de água da nascente Não quero bebê-la a sós Eu quero sentar contigo na pedra quente a ver nascer do sol Na cidade branca picos no meu Sumol Base cor de laranja, manchas no meu lençol Isto não é vida p'a gente Eu quero ser tipo um cavalo a olhar em frente Só p'a ter razões p'a rir pus um brilhantе no meu dente Eu mando um salto na foguеira Eu vou fazer o que quero e vou fazê-lo à minha maneira Eu ligo os holofotes pa' acabar com a brincadeira Passo a noite em claro a andar a roda a noite inteira Eu meto achas na lareira A ventoinha afasta o vapor quente da banheira Vinho no meu copo tem syrah com trincadeira Eu penso enquanto a cama vai batendo na mesa da cabeceira O que é q'tu sentes? Toda a hora está a morder os dentes, agarra na mão Eu já não sei o que é ter os pés assentes, pés assentes no chão Tenho uma garrafa de água da nascente Não quero bebê-la a sós Eu quero sentar contigo na pedra quente a ver nascer do sol Na cidade branca picos no meu Sumol Base cor de laranja, manchas no meu lençol Isto não é vida p'a gente Eu quero ser tipo um cavalo a olhar em frente Só p'a ter razões p'a rir pus um brilhante no meu dente O que tu sentes Ao mostrar toda a tua vida pa' esta gente? Eu não sei se eu sou capaz pedir que assentes Eu 'tou a tentar mudar o estofo dos acentos O que é q'tu sentes? Eu juro que eu vou pôr os pontos nos acentos Todo o dia eu falo que hoje vai ser diferente Eu 'tou na minha Mas quando escreves outra linha é que eu me acendo Virei a página, deixei as linhas no prefácio Nem escrevo mais uma linha num livro que p'a mim já saiu Perdi conta dos dias Só confio em quem 'tá no fio Neve desafia-me, aprendi a gostar do frio E a cidade branca tem palácios Maquilhagem na pele de palhaços Tens mais que um bilhete p'o espetáculo Mas lá quem mata a cede é o diabo Lá fiz muitos hinos ao pecado Punha a minha graça noutro estado Tive de apagar o giz do meu quadro Sair da sola, descer do estrado Fui directo espetar o dedo ao olho mau Avó, perdi o medo do lobo mau Eu vi que fui escolhido então vou ser o tal Vais ver o meu caixão a ser portal Vem ver-me ao cemitério da cidade branca Mais um que deu a vida à guerra santa Num pântano encanta-me e canta-me A mais doce melodia O que é q'tu sentes? Toda a hora está a morder os dentes, agarra na mão Eu já não sei o que é ter os pés assentes, pés assentes no chão Tenho uma garrafa de água da nascente Não quero bebê-la a sós Eu quero sentar contigo na pedra quente a ver nascer do sol Na cidade branca picos no meu Sumol Base cor de laranja, manchas no meu lençol Isto não é vida p'a gente Eu quero ser tipo um cavalo a olhar em frente Só p'a ter razões p'a rir pus um brilhante no meu dente