O sul que nós sonhamos onde a vida Devolva o que branqueou nossos cabelos Mas cada ano a seca de janeiro, precede um novo inverno de asperezas Parece que o destino do campeiro não pode pedir mais que pão na mesa E aos poucos, o que diz o bolicheiro se multiplica em vozes pelo ar E volta a se calar o forasteiro, junta o violão no peito pra cantar Já vi quase de tudo em minha vida, a séculos que ando pela estrada Vi a morte sobre a terra prometida, e a vida sobre a terra abandonada Vi um homem pondo fogo na colheita, enquanto outro semeava num deserto Já vi perto o que ontem era um Sonho, e longe vi o que sempre fora certo Um povo sonha Deus a sua imagem, e Deus devolve a terra a cada povo Moldada no trabalho e na coragem que o povo usou pra levantar o sonho Aqui é nosso inferno e paraíso, a vida é uma planta por cuidar A que morrer por ela se preciso, o sul somente o sul pode salvar Assim falou pro povo o forasteiro, depois montou e envolto num clarão Sumiu emoldurado pela tarde, bem como o sol dissipa a serração Uns dizem que mais altos que os Cerros ele segue abençoando este rincão Mas muitos acreditam que essa gente ouviu a voz do próprio coração O certo é que um a um se foi às Casas, por que havia uma planta por cuidar Arar a terra a cada madrugada, para a semente que há de germinar O homem faz seu Deus que faz o Sonho, um sonho azul maior que este lugar Na luz que vem dos olhos dessa gente, o sul um dia se iluminará