Sonhei com o dia em que fugia da aldeia Desaforrava o pé-de-meia E embarcava no batel Que era galé, navio com vela de moinho Aportando de caminho Na cidade de Babel Aquela língua não vinha nos dicionários Toras, bíblias, prontuários Nada tinham para dizer Ouvi dizer que para sentir o teu sintoma Falar o teu idioma Tinha de te rescrever Não sabendo se davas abelhas ou mel Subi à torre de Babel Para me perder em tradução E lá do alto o amor não era um lugar estranho A vida tinha outro tamanho Sem tamanha solidão No tempo entre calar e consentir Eu dei-te tempo de fugir Temendo o medo de temer Confundiste-me com bom entendedor Meia palavra, meu amor Bastou para te desentender Não sabendo se eras alma que não morre Voltei a subir à torre Para perceber depois Que aquele mundo era no fundo moribundo Haveria um mais profundo Que monólogo a dois Se me encontrares, destraça a perna e para a linguagem Traça um plano de viagem Que me dê uma nova cor Que a coerência não faz parte dos meus planos Tenho vinte e quantos anos? Já nem sei morrer de amor Afaga a lâmpada, apaga a lamparina Se o meu escuro te ilumina E não tens nada a perder Vais ensinar o ancião sobre essa sina Assina o peito da menina E assassina a mulher