Com todo este património, sapato chique a valer Não me chamarão campónio, não me saberão esquecer Botão de punho, anel na mão, servem-me o fato e a gravata Construí o meu brasão com pedaços de sucata O sonho que à frente punha era a nata querer prová-la Com a fome que na unha, com as notas que na mala Há quem ganhe, há quem lute e luta enquanto eu ia pondo Mais champanhe no teu flûte, puta da Conde Redondo Desculpa, minha querida Não te quis fazer sofrer Na verdade, nesta vida Nunca fui quem queria ser Queria até ser artista de bolero ou patinagem Sou um homem progressista, tolero a paneleiragem Que o meu puto era maricas e fui eu que achei por bem Inscrever na sua lápide aqui jaz filho de alguém O meu pai não era o louco de lá de Campo de Ourique Chiça, penico, chapéu de coco, bateu as botas altas e stick Padeceu de falecimento pendurado na parreira Destinou-me em testamento um pulmão e uma carreira Já despachei a madame para Cuba de viagem Será cicerone de certame de cenas de alta cilindragem Queria uma porca à mesa que o fosse também na cama Calhou-me esta lady tesa, quando transa diz que me ama Queimei o extracto bancário das minhas contas na Suíça Alienei o nosso erário para fugir à Justiça Se hoje sou do jet set quando ainda ontem era trolha Entre a hipoteca e o sabonete, venha o diabo e escolha Não me olhes a meia haste, faz-te cúmplice, de resto Sempre me consideraste relativamente honesto Procuram-me em toda a parte, condenado há mais de um ano Mas se os homens são de Marte dão-me asilo em Urano Que a Terra perdeu encanto, considero até Plutão Entretanto, no entanto, canto mais uma canção