Sartre da São João, hálito de bebida barata Meio Vila Rica amassado no bolso Devorador de memórias de prostitutas e arruinados O doce prazer dos últimos trocados Hoje escreverei o livro de toda minha vida E trocarei os manuscritos por beijos e carinhos pagos Foi tudo um engano Um enorme engano do acaso E acabei aqui, vencedor mas derrotado De troféu entre os braços Sem ninguém pra me chamar de herói Velando meus coelhos brancos As pessoas não ficam, sempre passam Evitam contato com o homem e seus desencantos E eu assisto tudo, como um filme de quinta categoria Sem saber porque faço ou falo coisas Em um cinema sujo e triste, as mulheres me cospem, o coração desiste E deixo o orgulho para as moscas Um brinde então, a esse odor de quarto úmido A televisão que não sintoniza Um brinde ao Domingo, ao tédio, a esse colchão imundo Onde casais feios treparam por dias Eu sou herói de ninguém e quero um quarto sem espelhos Um corpo sem nome pra abraçar com os joelhos Porque hoje sou o que sou, o leão covarde da boca do lixo Na estrada de tijolos mais suja e cheia de bichos ♪ Decorei poesias, li Kierkegaard, Nietzsche até o raiar do dia Só conheci mesmo na vida os demônios sujos que não conhecia Verdade Fernando, jamais conheci mesmo quem levasse porrada E todos que conheci me chutaram mesmo caído à calçada Holden estou aqui, de esperanças enterradas Atravesso, atravesso a estrada e nunca acontece nada, nada