Alô, mãe Você sente minha falta? Porque eu também sinto falta de mim Alô, mãe Canta que o corpo transpassa O tempo e nos faz resistir Deixei meu cocar no quadro Retrato falado, escrevo: "Tá aqui" Num apagamento histórico Me perguntam como é que eu cheguei aqui A verdade é que eu sempre estive (Nos reduzem a índios, mitos, fantasias) A verdade é que eu sempre estive (E depois dizem que somos todos iguais) Vou te contar uma história real: Um a um morrendo desde os navios de Cabral Nós temos nomes, não somos números (Galdino Pataxó, Marçal Guarani, Jorginho Guajajara) Nós temos nomes, não somos números (Marcinho Pitaguary,???, não somos) Pra me manter viva, preciso resistir Dizem que não sou de verdade Que eu não deveria nem estar aqui O lugar aonde eu vivo Me apaga e me incrimina Me cala e me torna invisível A arma de fogo superou a minha flecha Minha nudez se tornou escandalização Minha língua mantida no anonimato Kaê na mata, Aline na urbanização Mesmo vivendo na cidade Nos unimos por um ideal Na busca pelo direito Território ancestral Vou te contar uma história real: Pindorama (território, território ancestral) Brasil, Demarcação já no território ancestral