Lá em cima do piano um líquido satânico Preparado há muito tempo por um tal botânico Deste lado destilado do outro lado fermentado Com açúcar com afeto gota a gota decantado Lá em cima do piano ou naquele bar Tem um copo de veneno que é de amargar Tem um pouco do veneno pior que arsênico Lá em cima do piano tinha um copo de veneno Quem acho bebeu não compreendeu Que a doçura que aparenta é só mais uma ferramenta Lá na casa do chapéu por detrás do breu Mora um senhor titânico neurônio irônico Substrato abstraído de sorriso corroído Pai do roedor de dor traidor traído Lá no fundo do seu crânio debaixo dos panos Um suco libidinoso ácido queimando Revelando das entranhas o que parecia estranho Lá em cima do piano tinha um copo de veneno Quem bebeu morreu o azar foi teu Que foi no bico do corvo até a curva do osso Lá na vila do caroço no fundo do poço Tem um copo de veneno dry-martírio pleno Bolinando as turbinas quando o sangue estricnina Na corrente anfetamina você liga e não atina Sobe a rampa do veneno e pula em cima do piano Deixa pra fulano reparar os danos Mas embebida nos enganos no meio dos meios termos A desiludida vida tem valor supremo Quem viver verá quem beber esquecerá Que mesmo um copo vazio ainda está cheio de ar