Eu peço bençãos Peço um tempo Pra que eu possa respirar Me banhar Com erva e flores Pra que eu volte a acordar O céu lilás Meus pés no chão Descalço vou Beijando a terra E a pele que me leva Veste, vive e eleva Olhares adestrados Me destratam Metralham julgamentos Cultura que maltrata O tal doutor Nos cala, nos rouba, nos rende Eu sigo persistente Xangô segue ciente A pálida estiagem Envenena igual cicuta As distrações nos furtam Nos caçam E nos curvam Me livre desta malha Que me trava Feito camisa de força Entre histórias mal contadas A verdade é uma afronta Me perco e me acho na neblina Meu peito é aperto Se penso nas famílias Tão minhas Tão nossas Tão suas O choro, a agonia As festas, abraços E lutas Eu ergo a cabeça Eu sou céu estrelado Faíscas no infinito Dançando sem pecados Sem a penitência dos crimes Que vcs mesmo criaram Eu não esqueci De onde fui sequestrado Estão tentando Me expulsar Nem fodendo Eu vou sair daqui Esse é o meu lugar Tudo que eu tenho transborda Por isso todos ficam a minha volta Por dentro eu to explodindo Por fora me segurando Mas canto sorrindo Porque apesar de tudo e amo Minha família, minha vila E compor os nossos sonhos