A árvore quando é cortada
Chora e sofre de tal maneira
Pois vê que o machado que sangra o seu tronco
Também é feito de madeira
Reina a dor, reina a dor
Reina a dor, reina a dor
Reina a dor, reina a dor
Reina a dor, reina a dor
Reina reina a dor, canta o sabiá
A maré virou, o tempo vai fechar
Quilombo ensinou, tá pra anunciar
Chicote voltou no lombo de quem mandou dar
Eu vi a luz do rei
Do rei
Eu vi a luz do rei
Do rei
Eu vivia a lustrar a espada do rei
A espada do rei
Eu vivia a lustrar a espada do rei
A espada do rei
A espada do rei, do fio afiado
Que fere o escravo, o servo e o plebeu
Que são meus irmãos
Que sou eu
Pra cada tronco, um machado
Bem-vinda revolta cresce
Se quem bate mal se lembra
Quem apanha nunca esquece
Quem tombou pela cor?
Pela cor, quem tombou?
Quem sangrou pela cor?
Pela cor, quem sangrou?
É, pra quem tombou, tambor vai tocar
Sangue que irrigou, pode envenenar
Quilombo ensinou, tá pra anunciar
Quem sempre falou, hora de calar
Quem diz que não
É sim, é sim
Quem diz que não
É sim, é sim
Quem diz e jura que não vê cor
É sinhá, é sinhô
Quem diz e jura que não vê cor
É sinhá, é sinhô
Eu sei que tem cor a mão que sangrou
Sangrou no tambor de tanto tocar
Tocar pro sinhô, tocar pra sinhá
De que lado que eu tô? De que lado cê tá?
Nessa dança
Reina a dor, reina a dor
Reina a dor, reina a dor
A maré tá subindo
Eu tava dormindo
Nuvem negra trovejou
Levanta, meu povo
Foi assim que ela falou
Eu tava dormindo
Quando a chuva começou
A mágoa se fez pranto
Em água se transformou
As água foi caindo (As água foi caindo)
Feito lágrima de amor (Feito lágrima de amor)
Levanta meu povo (Levanta)
Cativeiro acabou (Levanta, levanta)
Levanta meu povo (Levanta)
Cativeiro acabou (Levanta, levanta)
Eu tava dormindo
Nuvem negra me acordou
Machado!
Quer nada
Se tu quisesse paz
Ia querer também a liberdade
Mas tu treme só de pensar
Tu prefere o controle dos corpos
Se quisesse paz
Ia querer também ficar em silêncio
Mas tu é tiro, é porrada e é bomba
É tanque de guerra na praça
Tu quer é calar o outro
Pra tua voz se destacar ainda mais
Tu quer ter mais que o outro às custas do outro
E quer que o outro não reclame
A tua paz, doutor, é pisar no debaixo e não ouvir o grito
Quer paz porra nenhuma!
Tu só não quer é ser incomodado
Tu quer a ordem, que é um tapete muito limpo
Sobre um mar de sangue no assoalho
Tu quer é instaurar o caos
Pra inventar a pílula da salvação
Tu quer os peitos comprimidos
Pra melhor vender comprimidos pra dor
Mas deixa eu te falar uma coisa?
O povo, essa massa que tu olha e não vê cara
Essa força que arrepia quando chega na Central às seis da tarde
O povo foi forjado no caos
Diz pra mim
Quem é que tem medo do caos?
Quem tem medo do caos é você
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