Quando se construiram as fábricas no Porto, há mais de cem anos Vieram para cidade muitos trabalhadores Eram eles que produziam tudo Era a custa do seu trabalho que os patrões Conseguiam dinheiro para construir mais fábricas E cidade aumentou Para onde foram morar os operários? Nos seus quintais, Que até ali serviam apenas para galnhas e Flores, os senhores das fábricas construiram as ilhas Quanto mais casas, mais ganhavam Quanto mais pequenas, melhor Foi um bom negócio Em 1936, metade da população do Porto vive em ilhas Os operários vivem nas traseiras dos senhores Sem água, nem ar, nem sol, nem retretes As ilhas são um centro de doença e de miséria A doença pega e os senhores tem medo A miséria não é bonita e aos senhores não agrada o espetáculo A câmara é obrigada a fazer qualquer coisa Em 1958, foi aprovado o plano de melhoramentos As ilhas serão demolidas, Começam a fazer-se bairros para onde Serão transferidos os seus moradores Os senhores ficam contentes, Porque as ilhas já rendem pouco e os terrenos ficam outra vez livres Mas agora, não são galinhas nem flores, São prédios novos que eles constroem e que rendem mais As rendas são caras e só os ricos ali podem ficar E os moradores das ilhas vão para os bairros Apesar das novas casa terem sol, terem quarto de banho São muitos os casos de resistência, frequentemente a polícia intervem Os moradores não tem direito a indenização, Nem podem escolher o bairro que mais lhes agradam Separam-se dos amigos, da família A comunidade da ilha é destruida As pessoas desconfiam e tem razão Nos bairros terão que cumprir um regulamento Haverá um fiscal que entra nas casas Que conta as pessoas que lá moram Que toma nota dos embelezamentos que elas fizeram a sua custa Que procuram os gatos sem licensa, as galinhas clandestinas A infração ao regulamento acarreta Multas, transferências de bairro, despejos O despejo não tem recurso As primeiras lutas são contra os despejos Em setembro de 73, no bairro da Pasteleira Pela primeira vez, protesta-se coletivamente contra um despejo Em São João de Deus, em novembro 73 Os moradores impedem um despejo A caminhonete que trasnportaria a mobília para o canil, Pois era para o canil que eram Transportados os despejados e seus haveres Essa caminhonete, dessa vez, foi vazia Em 30 de abril de 74, os moradores de São João de Deus tomam a palavra E elaboram o primeiro caderno reivindicativo Iniciara-se o movimento dos bairros camarários Que em pouco tempo alastra a maioria dos bairros Os fascistas cá do Porto, fazem bairros camarários Escondem nossa miséria nas costas dos seus palácios E opressão aos moradores, nas costas do alvará A opressão tem mil caras, tudo rouba e nada dá A opressão tem mil caras Tudo rouba e nada dá Em Portugal libertado tudo isso acabará Moradores, povo unido. Tudo junto mudará Atiremos pra lixeira, a caminhonete e o fiscal Ajudaremos assim a libertar Portugal E gritemos todos juntos pra ajudar o movimento Abaixo o Abel Monteiro mais o seu regulamento A luta centra-se em dois objetivos principais: Luta contra o regulamento fascista Não haverá mais fiscais Não haverá mais multaS Nem transferências, nem despejos A Vida dos bairros camarários Regular-se-á pela vontade dos seus moradores Luta pelo saneamento da câmara Abaixo o Abel Monteiro! Abaixo o Santos Silva! Fora com todos os que oprimem o povo, a luta continua! Abaixo o Abel Monteiro mais o seu regulamento