Circunstanciais os limites pra quem vive no moerão Num rancho de terra bruta a um metro e tanto do chão Um casal de João de barro com paciência, bico e asa Escolheu bem na porteira pra erguer o sonho da casa O barro depois da chuva bastou pra toda a morada Mangueira de terra boa sovada com a cavalhada O tempo fez dias claros e a construção foi parelha Duas semanas o rancho foi do alicerce pras telhas O macho levava cantos pro timbre do alambrado Na partitura da cerca, anunciava os bem chegados Toda manhã de setembro um canto novo acordava Quando a fêmea emplumada, por sobre o rancho cantava Porta pro lado do sol, meter a cara em porfia E um canto de passarinho chamando as barras do dia Por que a vida tem sentidos, onde a razão não se cansa De renascer todo o dia, aonde exista esperança... Mas foi bem junto com a chuva que uma tropa de cruzada Se apertou bem na porteira querendo pegar a estrada E o moerão num trompaço perdeu o entono e a razão E derrubou o ranchinho de terra e ninho pro chão E a tropa cruzou por diante sem reparar o que fez Casco e pisada quedaram dois sonhos de uma só vez E o barreiro repousado no outro moerão da porteira Parecia que buscava ao longe a sua companheira Custou, mas cantou de novo, de asa e de bico aberto Quando o casal se encontrou num cinamomo ali perto Pra erguer um novo rancho no mesmo ciclo de espera Longe do cruzo das tropas, na próxima primavera... Porta pro lado do sol, meter a cara em porfia E um canto de passarinho chamando as barras do dia Por que a vida tem sentidos, onde a razão não se cansa De renascer todo o dia, aonde exista esperança...