Naquele bolicho, na beira do brete Restou um cavalhete e uma cuia extraviada Um rolo de fumo, uma gerva mofada, uma boneca de pano E uma palha sovada Restou um pensamento na mesa de tábua No jogo de truco, colou suerte na tarva Com partidor de saudade na cancha trilhada E uma parelha de vultos esperando a largada Naquele bolicho de paredes rachadas Restou um silêncio perdido nas horas Um relógio de bolso, um par de esporas, um gato caduco Que esqueceu de ir embora Naquele bolicho nos confins da querência Uma poeira de ausência na mangueira de pedras Um jasmineiro cheiroso, perfumando a tapera E a ilusão imponente de um palanque na espera Restou um calendário com os dibujos do Molina Um frasco de Olina e uma caneca alouçada Uma garrafa vazia, uma pipa sem água O suspiro, uma tosse de um fantasma com asma Restou um pandeiro e uma gaita furada Uma mão imaginária batendo no balcão Outra mão branquicenta encarregada de geada Pontiando a guitarra e trabalhando o bordão Daquele bolicho na beira do brete Só restou a lembrança das coisas do pago Um cheiro de pastel engordurando o Minuano E uma tarde domingueira remoendo o passado